Para acabar a semana com um sorriso, vamos voar até ao "Jardim do Lago, árvore n.º 5, 2.º ramo frente" e visitar a nossa Joaninha.
Episódio 2
Do ramo da Joaninha, a sua casa, até ao canteiro
dos lírios era um pequeno voo, menos de três minutos. Isto, se não parasse no
caminho, se nada atraísse a sua curiosidade, se nenhum imprevisto alongasse a
viagem.
As cores vistosas do canteiro e o perfume que
Joaninha sentia no ar levaram-na, direitinha, até ao destino planeado. Pousou,
delicada, na haste mais alta de um lírio salpicado com gotinhas de orvalho, que
reluziam ao sol da manhã. Sabia que o lírio era uma flor frágil, não queria
fazer mossa nas lindas pétalas... E a flor não se ressentiu do peso das
patinhas minúsculas do inseto colorido.
Logo reparou num montinho escuro numa folha: “Olha
o meu pequeno-almoço!”
Piolhos da folha do lírio – era a refeição predileta
da Joaninha. Era melhor apressar-se, antes que mais alguém cobiçasse o manjar.
Não perdeu tempo, deu um saltinho esvoaçante e, num ápice, deixou a folhinha
limpa.
Mal tinha acabado a refeição, pôs-se a contas com a
sua consciência: “Comi os bichinhos, coitados... insetos como eu. Terei feito
bem?”
Olhou para a planta ao lado e logo esqueceu o
pensamento que lhe ocupara o espírito. Viu outra joaninha, igualzinha a si. Até
hesitou se estaria a ver-se ao espelho. “Não, não sou eu, é outra. E está a comer.
São piolhos da folha. Tem os mesmos gostos que eu...”
Resolveu conversar com ela. Ou, pelo menos, tentar.
Logo veria se ela estava disposta a uma troca de palavras.
– Bom dia, cara amiga. Chamo-me Joaninha. E tu?
A outra ergueu as antenas, fixou os olhinhos
vidrados na criaturinha que a cumprimentava. Parecia surpreendida, mas
respondeu:
– Eu sou Joana. Muito prazer.
“Que bom! Tenho uma amiga.” – pensou Joaninha.
– Onde moras? – ousou perguntar.
– Não tenho morada certa. Na noite passada dormi
naquele arbusto ali. Logo decido onde vou passar a próxima noite.
“E se eu a convidasse para dormir no meu ramo?
Talvez ela aceitasse.”
– Eu durmo sempre no mesmo sítio. É na árvore
número 5, no 2.º ramo frente. Posso dizer que moro lá.
– Não sei onde isso fica. Nunca tinha reparado que
as árvores tinham número.
– Não têm. É a quinta árvore a contar da entrada do
jardim, à beira do lago.
– Ah, está bem...
– Queres vir lá ter comigo e dormimos no mesmo
ramo?
Pareceu a Joaninha que a ideia agradara à
convidada. Ia jurar que a vira sorrir...
– Aceito. Ao pôr do sol estou lá.
– Está bem, Joana. Até logo!
Joaninha levantou voo, sobrevoou o lago, atenta à
presença dos cisnes... Era preciso evitar alguma bicada que não lhe desse tempo
de se desviar. Nada podia estragar a felicidade que sentia, que a fazia voar
mais leve, mais alto, com o coraçãozinho a bater de euforia.
“Iupi! Iupi! Tenho uma amiga! Iupi!!!”
(continua)
J. M.