sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

"Jardim do Lago, árvore n.º 5, 2.º ramo frente" #4

Mais uma aventura no Jardim do Lago. Esta história tem revelado mensagens para todas as idades. Cada episódio faz-nos refletir sobre o que somos e sobre o que queremos que as nossas crianças sejam. Obrigada J.M.
Episódio 4

– Bom dia, caras amigas!
A resposta foi um silêncio prolongado...
O gafanhoto quase se arrependeu da iniciativa. Teria sido inconveniente? Não, os dois insetos vermelhos com pintinhas pretas continuavam impávidos, no mesmo sítio do ramo. Estava explicado o seu silêncio: ainda dormiam.
Esperou mais uns minutos. Aproveitou para pensar no que tinha para lhes dizer, enquanto olhava em volta apreciando o jardim que, pouco a pouco, ia acordando.
– Bom dia, caras amigas! – insistiu.
A mais velha acordou, estremunhada, bateu com uma asinha na carapaça da amiga dorminhoca. As duas olharam, boquiabertas, para o gafanhoto: a mais nova porque nunca ouvira uma palavra ao seu vizinho “estranho”, a mais velha porque, depois do que a outra lhe dissera, não esperava esta saudação tão gentil.
– Bom dia, caro vizinho! – disseram em coro.
– Vejo que as amigas dormiram bem. Soninho profundo, ahn?
– É verdade, vizinho. Dormimos muito bem.
– Caras vizinhas, tenho para vos contar que ontem, sem querer, ouvi a vossa conversa...
Joana e Joaninha estremeceram.
– Mas até gostei do que ouvi. Descobri que a nossa relação iria mudar. E para melhor... E foi isso que me fez cumprimentar-vos e dizer-vos que tenho muita vontade de viver em harmonia na nossa árvore e sentir que dormem ao meu lado duas amigas.
– Obrigada. Ficamos felizes com o que nos disseste. E por te conhecermos. Já agora... como te chamas?
– Valentim. E as meninas?
– Eu sou Joana.
– E eu Joaninha.
– Vai um voozinho para comemorarmos a nossa amizade? – propôs Joana.
– De acordo. Hoje vamos até ao canteiro das dálias. Um... dois... três!
Joaninha contou até três para marcar o momento da partida, como fazem as crianças para começar uma corrida, um jogo, uma brincadeira divertida. Por coincidência, também estes amigos eram três. Embora o gafanhoto gostasse mais de se deslocar aos saltos, não quis fazer desfeita às suas novas amigas. Os três levantaram voo.
O pardalito mais novo, que acordara com o diálogo animado dos vizinhos do ramo, ficou a vê-los bater as asinhas animadamente até ao sítio combinado...
(continua)
J. M.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Irlanda - País anfitrião do Dia Internacional do Livro Infantil de 2014.



Desde 1967, por volta do aniversário de Hans Christian Andersen, 2 de abril, comemora-se o Dia Internacional do Livro Infantil, com o objetivo de inspirar o amor pela leitura e chamar a atenção para os livros infantojuvenis.

(Hans Christian Andersen e o seu “Patinho Feio” no Central Parque em Nova Iorque)

Todos os anos é selecionado um país da Secção Nacional do IBBY (International Board on Books for Young People) para ser o anfitrião internacional do Dia Internacional do Livro Infantil.

Esse patrocínio e desenvolvimento da literatura para crianças concretiza-se com a escolha de um tema, que irá ser promovido ao longo de todo esse ano. Para além disso, é convidado um autor premiado do país anfitrião para escrever uma mensagem para as crianças do mundo, bem como um ilustrador de renome para elaborar um cartaz. Todo esse material é usado para promover o livro e a leitura através de eventos que podem incluir encontros com autores e ilustradores, concursos de escrita ou anúncios de prémios.

Este ano de 2014 o país selecionado for a Irlanda, com o tema: “Imaginar a Nação através da História”. O design do cartaz ficou a cargo da ilustradora Niamh Sharkey e a mensagem para as crianças do mundo foi escrita pela Siobhán Parkinson. Podem ler em seguida essa inspiradora mensagem, traduzida por mim:

Os leitores frequentemente perguntam aos escritores, como é que eles escrevem as suas histórias – De onde surgem as ideias? Da minha imaginação, responderá o escritor. Ah, sim, dizem os leitores. Mas onde está a tua imaginação, e do que ela é feita, e toda a gente tem uma?

Bem, diz o escritor, está na minha cabeça, claro, e é feita de imagens e palavras e memórias e excertos de outras histórias e palavras e fragmentos de coisas e melodias e pensamentos e rostos e monstros, e formas e palavras e movimentos e palavras e ondas e arabescos e paisagens e palavras e perfumes e sentimentos e cores e rimas e pequenos clicks e lufadas e sabores e rajadas de energia e enigmas e brisas e palavras. E tudo isto girando dentro da tua cabeça, cantando e caleidoscópicando e flutuando e sentando e pensando e coçando a cabeça.

É claro que cada um tem uma imaginação: caso contrário, não conseguiríamos sonhar. Embora a imaginação de cada um não contenha a mesma coisa. Provavelmente dentro da imaginação dos cozinheiros existem maioritariamente sabores, e a imaginação dos artistas deve ser composta por muitas cores e formas. Já a imaginação dos escritores é repleta de palavras.

E para os leitores e ouvintes de histórias, a sua imaginação é também movida por palavras. A imaginação do escritor trabalha e gira e forma ideias e sons e vozes e personagens e acontecimentos numa história, e a história é feita de somente palavras, batalhões de rabiscos que marcham através das páginas. De seguida, vem um leitor e os rabiscos ganham vida. Eles permanecem na página, ainda parecem batalhões, mas também estão a brincar com a imaginação do leitor, e o leitor está agora a moldar e a girar as palavras de modo que a história decorre agora dentro de sua cabeça, como já aconteceu na cabeça do escritor.

É por isso que o leitor é tão importante para a história como o escritor. Existe apenas um escritor para cada história, mas existem centenas, ou milhares ou até mesmo milhões de leitores, não só na língua do escritor, mas também traduzido em muitas línguas. Sem o escritor a história nunca teria nascido; mas sem as centenas de leitores à volta do mundo, a história nunca teria vivido todas as vidas que podia viver.

Cada leitor de uma história tem algo em comum com todos os outros leitores dessa história. Separadamente e de alguma forma também juntos, eles recriaram a história do escritor na sua própria imaginação: um ato que é ao mesmo tempo privado e público, individual e comunitário, íntimo e internacional. Pode muito bem ser o que os humanos fazem de melhor.

Continuem a ler!

Siobhán Parkinson

Autor, Editor, Tradutor e detentor da posição de “Laureate na nÓg” (Children’s Laureate of Ireland).
por Niamh Sharkey
(Cartaz Oficial do Dia Internacional do Livro Infantil de 2014)
Infelizmente Portugal ainda não foi um dos países selecionados para ser país organizador do deste Dia, no entanto fazemos parte da seleção de países desta organização, como podemos ver aqui.


Realizam-se em Portugal diversos eventos específicos, de forma a divulgar e chamar a atenção das pessoas para a importância do livro, bem como do ler em voz alta para e com as crianças. Como por exemplo a ILUSTRARTE - Bienal Internacional de Ilustração para a Infância, que inaugura hoje, às 19h no Museu da Eletricidade em Lisboa e vai até dia 13 de abril. Mais informações sobre este evento vejam aqui.

 

Aqui pode saber mais sobre este Conselho Internacional de Livros para Jovens (IBBY), uma organização sem fins lucrativos, que nasceu em Zurich e que representa uma rede internacional com um único objetivo: aproximar os livros das crianças de todo o mundo, inclusivamente dos países em desenvolvimento, para que todos tenham acesso a uma literatura de qualidade.

Boas Iniciativas e Boas Leituras!