quinta-feira, 9 de outubro de 2014

PROJETO "Livro Viajante"

Hoje faz um ano que criei o blog, este espaço onde partilho um bocadinho de mim que está ligado à educação. E penso que, mesmo não estando a exercer a minha profissão, irei levar sempre comigo este meu "Ser Educador". É como se fosse um legado, uma responsabilidade: um professor, uma vez professor, nunca pode deixar de dar voz à Educação. Como podemos fazer isso? A partilhar.
Este espaço foi criado para partilhas na área da literatura infantil e por isso hoje queria dar-vos a conhecer um projeto de promoção da literacia infantil que desenvolvi dentro de sala com crianças dos 24-36 meses e que me deu um enorme prazer. - "Livro Viajante". E não, eles não são muito pequeninos para um projeto com livros.



Como surgiu o projeto?
Este projeto partiu de um problema: Dentro de sala não tinha muitos livros para as crianças (infelizmente nem sempre os educadores têm variedade de materiais disponíveis e adequados à faixa etária). No entanto, isso não iria ser uma desculpa e tinha que arranjar uma solução já que considero que as crianças devem ter acesso a livros de qualidade. Este processo de literacia deve começar assim que o bebé é capaz de segurar em objetos, pois para ele o livro é apenas isso mesmo: um objeto. Cabe-nos a nós, adultos, dar-lhe significado. Ter livros dentro de sala é o primeiro passo para esta aprendizagem.

Depois de muitas pesquisas, descobri alguns projetos semelhantes, mas todos com os livros a ir da escola para casa. Rapidamente constatei que isso não seria possível pois não tinha livros suficientes para que cada criança levasse um livro diferente.

Foi quando me surgiu uma ideia: porque não serem eles a trazer os livros de casa e partilharem com os amigos os seus livros preferidos? Assim foi.

Como organizei o projeto?
Comecei por desenvolver um pequeno “manual” com a descrição do projeto: Como?, Quando? e Porquê?. Nesse manual constava também o objetivo do mesmo e algumas dicas do Plano Nacional de Leitura de Como Promover o Interesse pela Leitura em crianças dos 24 aos 36 meses. Para além disso, disponibilizei ainda uma lista de livros adequados à faixa etária, para os pais terem como orientação para aquelas questões: "Que livro é mais indicado?"; "Pode ser um livro de folhas finas?"; "Que tipo de texto deve ter o livro?". É claro que esta lista era apenas uma orientação, o objetivo era trazerem um livro que tivessem em casa, mas caso quisessem comprar um novo e enriquecer a biblioteca, tinham ali por onde escolher.
Tendo este projeto como mote, as conversas sobre os livros que tinham em casa e sobre como contavam histórias aos filhos, foram uma constante e ia conseguindo fazer o meu trabalho de educadora que a meu ver não se encerrava na escola. Tudo o que ensinamos eles repetem em casa e vice versa. É um ciclo que só gira se houver diálogo, se houver partilha.

Ação!
O projeto foi apresentado aos pais durante a reunião e o manual do projeto passou por todos. Expliquei tudo, esclareci as dúvidas e eles aceitaram o desafio! Os projetos dentro de sala só têm realmente efeito quando envolvemos a família.
Depois dos pais envolvidos, faltava a apresentação do mesmo às crianças que desde cedo sempre demonstraram interesse nos livros, no ouvir, contar e recontar histórias. É verdade que sempre foram incentivados para tal, tanto na escola como em casa.


Assim, numa das nossas reuniões de grande grupo pela manhã conversei com eles sobre os livros que tinham em casa e de quais gostavam mais. Conversámos também sobre como devíamos tratar os livros e, por fim, perguntei-lhes se queriam trazer o livro que gostavam mais para partilharem com os amigos. É claro que a resposta foi positiva.
Em conjunto apercebemo-nos que precisávamos de um saco para podermos transportar os livros de casa para a escola e por isso fizemos o nosso “saco viajante” (saco de pano cru, de um lado decorado com as mãos das crianças e do outro o nome do projeto).

Todas as sextas-feiras o saco era pendurado no cabide de uma criança e lá dentro levava o manual (que andava sempre dentro do saco) e às segundas-feiras voltava com UM LIVRO PARA PARTILHAR!

Durante essa semana o livro era lido uma primeira vez por mim e depois pela criança que partilhou o livro e pelos restantes amigos. Fazíamos atividades relacionadas com a história, como por exemplo: culinária, dinamização de músicas, pequenas dramatizações, expressão plástica, recontar a história em outras salas, etc.
O livro foi um mediador de tantas outras aprendizagens. Nesta faixa etária e tendo em conta o grupo, foquei-me mais no partilhar com o outro e no desenvolvimento e enriquecimento do vocabulário.

Como foi feita a comunicação?
Quando acabámos a primeira parte do "Livro Viajante" fizemos uma exposição para a comunidade escolar. Em exposição estiveram fotografias de cada criança com o seu livro partilhado e uma transcrição da respetiva história contada pelas palavras dessa criança.

Porquê partilhar o projeto "Livro Viajante"?
Por vezes algumas amigas, sabendo deste meu interesse pela literatura infantil, perguntam se tenho ideias de como dinamizar o livro dentro de sala. Quando lhes falo do "Livro Viajante" pedem sempre para explicar tudo tim tim por tim tim. Por isso hoje que é dia de aniversário do blog, disponibilizo o manual do “Livro Viajante” aqui, especialmente dedicado aos profissionais de educação. Já todos podem utilizar ou tirar ideias!
Quem quiser falar sobre outros projetos semelhantes que tenha feito dentro de sala, pode partilhar no blog ou no facebook do "Pinguinhos de Leitura", é muito bem vindo!

Espero que tenham gostado deste projeto, pois eu gostei muito de o pôr em prática!
Foi gratificante ver a evolução do grupo, ver a postura deles em relação aos livros e a conversa depois de cada história contada.
É claro que não vos vou dizer que nunca estragaram um livro, que sabiam folheá-lo na perfeição... Não vou dizer isso porque não é verdade. Sempre lhes disse que os livros são para estimar e todos sabiam disso, mas como crianças que são, alguns livros ficaram com as folhas tortas, com uns pinguinhos de tinta que durante uma atividade lá foi parar, outros com uma fita cola na ponta... Mas isso é sempre bom sinal, é sinal que foram manuseados por crianças e não por adultos, é sinal que fizeram parte do crescimento e da aprendizagem, é sinal que foram trabalhados é sinal que contam uma história que vai para além daquela que foi escrita pelo autor.

Bons Projetos e Boas Partilhas!

2 comentários:

  1. Parabéns pelo projeto Aline! e que esse teu amor pela educação de infância te acompanhe sempre!

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  2. Obrigada Lea! Vou cultivando esse gosto por aqui e nas conversas com amigas Educadoras! =)

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