Hoje
faz um ano que criei o blog, este espaço onde partilho um bocadinho
de mim que está ligado à educação. E penso que, mesmo não
estando a exercer a minha profissão, irei levar sempre comigo este
meu "Ser Educador". É como se fosse um legado, uma
responsabilidade: um professor, uma vez professor, nunca pode deixar
de dar voz à Educação. Como podemos fazer isso? A partilhar.
Este
espaço foi criado para partilhas na área da literatura infantil e
por isso hoje queria dar-vos a conhecer um projeto de promoção da
literacia infantil que desenvolvi dentro de sala com crianças dos
24-36 meses e que me deu um enorme prazer. - "Livro
Viajante". E não, eles não são muito pequeninos para um
projeto com livros.
Como
surgiu o projeto?
Este
projeto partiu de um problema: Dentro de sala não tinha muitos
livros para as crianças (infelizmente nem sempre os educadores têm
variedade de materiais disponíveis e adequados à faixa etária). No
entanto, isso não iria ser uma desculpa e tinha que arranjar uma
solução já que considero que as crianças devem ter acesso a
livros de qualidade. Este processo de literacia deve começar assim
que o bebé é capaz de segurar em objetos, pois para ele o livro é
apenas isso mesmo: um objeto. Cabe-nos a nós, adultos, dar-lhe
significado. Ter livros dentro de sala é o primeiro passo para esta
aprendizagem.
Depois
de muitas pesquisas, descobri alguns projetos semelhantes, mas todos
com os livros a ir da escola para casa. Rapidamente constatei que
isso não seria possível pois não tinha livros suficientes para que
cada criança levasse um livro diferente.
Foi
quando me surgiu uma ideia: porque não serem eles a trazer os livros
de casa e partilharem com os amigos os seus livros preferidos? Assim
foi.
Como
organizei o projeto?
Comecei
por desenvolver um pequeno “manual” com a descrição do projeto:
Como?, Quando? e Porquê?. Nesse manual constava
também o objetivo do mesmo e algumas dicas do Plano Nacional de
Leitura de Como Promover o Interesse pela Leitura em crianças dos
24 aos 36 meses. Para além disso, disponibilizei ainda uma lista
de livros adequados à faixa etária, para os pais terem como
orientação para aquelas questões: "Que livro é mais
indicado?"; "Pode ser um livro de folhas finas?"; "Que
tipo de texto deve ter o livro?". É claro que esta lista era
apenas uma orientação, o objetivo era trazerem um livro que
tivessem em casa, mas caso quisessem comprar um novo e enriquecer a
biblioteca, tinham ali por onde escolher.
Tendo
este projeto como mote, as conversas sobre os livros que tinham em
casa e sobre como contavam histórias aos filhos, foram uma constante
e ia conseguindo fazer o meu trabalho de educadora que a meu ver não
se encerrava na escola. Tudo o que ensinamos eles repetem em casa e
vice versa. É um ciclo que só gira se houver diálogo, se houver
partilha.
Ação!
O
projeto foi apresentado aos pais durante a reunião e o manual do
projeto passou por todos. Expliquei tudo, esclareci as dúvidas e
eles aceitaram o desafio! Os projetos dentro de sala só têm
realmente efeito quando envolvemos a família.
Depois
dos pais envolvidos, faltava a apresentação do mesmo às crianças
que desde cedo sempre demonstraram interesse nos livros, no ouvir,
contar e recontar histórias. É verdade que sempre foram
incentivados para tal, tanto na escola como em casa.
Assim,
numa das nossas reuniões de grande grupo pela manhã conversei com
eles sobre os livros que tinham em casa e de quais gostavam mais.
Conversámos também sobre como devíamos tratar os livros e, por
fim, perguntei-lhes se queriam trazer o livro que gostavam mais para
partilharem com os amigos. É claro que a resposta foi positiva.
Em
conjunto apercebemo-nos que precisávamos de um saco para podermos
transportar os livros de casa para a escola e por isso fizemos o
nosso “saco viajante” (saco de pano cru, de um lado decorado com
as mãos das crianças e do outro o nome do projeto).
Todas
as sextas-feiras o saco era pendurado no cabide de uma criança e lá
dentro levava o manual (que andava sempre dentro do saco) e às
segundas-feiras voltava com UM LIVRO PARA PARTILHAR!
Durante
essa semana o livro era lido uma primeira vez por mim e depois pela
criança que partilhou o livro e pelos restantes amigos. Fazíamos
atividades relacionadas com a história, como por exemplo: culinária,
dinamização de músicas, pequenas dramatizações, expressão
plástica, recontar a história em outras salas, etc.
O
livro foi um mediador de tantas outras aprendizagens. Nesta faixa
etária e tendo em conta o grupo, foquei-me mais no partilhar com o
outro e no desenvolvimento e enriquecimento do vocabulário.
Como
foi feita a comunicação?
Quando
acabámos a primeira parte do "Livro Viajante" fizemos uma
exposição para a comunidade escolar. Em exposição estiveram
fotografias de cada criança com o seu livro partilhado e uma
transcrição da respetiva história contada pelas palavras dessa
criança.
Porquê
partilhar o projeto "Livro Viajante"?
Por
vezes algumas amigas, sabendo deste meu interesse pela literatura
infantil, perguntam se tenho ideias de como dinamizar o livro
dentro de sala. Quando lhes falo do "Livro Viajante"
pedem sempre para explicar tudo tim tim por tim tim. Por isso hoje
que é dia de aniversário do blog, disponibilizo o manual do “Livro
Viajante” aqui, especialmente dedicado aos
profissionais de educação. Já todos podem utilizar ou tirar
ideias!
Quem
quiser falar sobre outros projetos semelhantes que tenha feito dentro
de sala, pode partilhar no blog ou no facebook do "Pinguinhos de
Leitura", é muito bem vindo!
Espero
que tenham gostado deste projeto, pois eu gostei muito de o pôr em
prática!
Foi
gratificante ver a evolução do grupo, ver a postura deles em
relação aos livros e a conversa depois de cada história contada.
É
claro que não vos vou dizer que nunca estragaram um livro, que
sabiam folheá-lo na perfeição... Não vou dizer isso porque não é
verdade. Sempre lhes disse que os livros são para estimar e todos
sabiam disso, mas como crianças que são, alguns livros ficaram com
as folhas tortas, com uns pinguinhos de tinta que durante uma
atividade lá foi parar, outros com uma fita cola na ponta... Mas
isso é sempre bom sinal, é sinal que foram manuseados por crianças
e não por adultos, é sinal que fizeram parte do crescimento e da
aprendizagem, é sinal que foram trabalhados é sinal que contam uma
história que vai para além daquela que foi escrita pelo autor.
Bons
Projetos e Boas Partilhas!