quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

"Jardim do Lago, árvore n.º 5, 2.º ramo frente" #3

Hoje vamos brindar esta semana de janeiro de 2014 com mais um episódio do "Jardim do Lago, árvore n.º 5, 2.º ramo frente". A Joaninha tem andado muito curiosa em relação aos seus vizinhos...

Boa Leitura e Bom Ano de 2014!


Episódio 3
Quem passasse, naquele fim de tarde, no Jardim do Lago nada encontraria de diferente dos outros dias, àquela hora: os cisnes nadavam tranquilos, ouviam-se os alegres chilreios das avezinhas, já as flores semicerravam as pétalas para as proteger do orvalho.
Só com uns binóculos de longo alcance e muita perspicácia alguém veria um inseto minúsculo pousado no 2.º ramo frente da árvore n.º 5.
Muito antes do pôr do sol, já Joaninha estava no seu ramo, movimentando os olhinhos em todas as direções do jardim. Esperava a sua amiga Joana. Os vizinhos do lado esquerdo e do lado direito ainda não tinham chegado. Era cedo, ela é que tinha pressa.
Fixou o olhar num canteiro de florinhas brancas, suspeitando que a amiga viria dali. Mas enganou-se. De repente, ouviu atrás de si o bater de umas asinhas e virou-se.
– Olá, Joana!
– Olá, Joaninha! Cheguei. Foi fácil encontrar a tua casa.
– Bem-vinda a este modesto lar, amiga. Chiu!... Vamos ficar quietinhas debaixo desta folha. Aqui ao lado mora uma família de passarinhos e desconfio que são insetívoros. Esconde-te, fala baixinho. Estão a chegar.
– Grande chilreada!
– É sempre assim. Não sei que pássaros são...
– Não te preocupes, são pardais.
– E então?
– Os pardais são aves granívoras. Só comem sementes, não apreciam insetos.
– Uf! Que alívio! As coisas que tu sabes, Joana.
– Aprendi com a vida. Tu ainda és muito nova...
Os passarinhos, pai, mãe e filhotes, olharam para o lado frente do ramo, viram Joana e Joaninha e não esboçaram qualquer gesto de ameaça. Enfunaram as peninhas, encostaram-se uns aos outros e, pouco a pouco, foram calando os biquinhos.
De súbito, as duas amigas ouviram um ruído no ramo do lado direito. Um gafanhoto desajeitado acabava de pousar e tentava acomodar duas patas de serrilha debaixo das asas verdes.
– Olha, Joana, é o meu vizinho gafanhoto. Muito esquisito, não achas?
– Não, é um gafanhoto como os outros.
– Mas eu acho-o estranho.
– Isso é preconceito, Joaninha.
– O que é isso?
– Preconceito é a ideia que fazemos de alguém sem o conhecermos, apenas pela sua aparência ou por aquilo que ouvimos dizer dele.
– E isso é mau? Não será apenas uma maneira de nos protegermos de desconhecidos?
– Às vezes é. Mas não devemos exagerar. Há pouco desconfiavas dos pardais. Agora do gafanhoto. Já vimos que ele não é perigoso, não nos faz mal nenhum, nem olha para cá. É simplesmente diferente de nós, não tem que ser igual.
– Tens razão. Não temos motivos para desconfiar ou fazer maus juízos de alguém só porque não é igual a nós.
– A variedade de seres é imensa.Encontrarás mais facilmente diferentes de ti do que iguais. Só tens que aceitar as diferenças e respeitá-las.
– Achas que podemos ser amigas do gafanhoto?
– Porque não? A amizade não acontece só entre seres semelhantes, pode aproximar seres diferentes.
– Amanhã vamos tentar conversar com ele. Hoje não, já é tarde. Parece-me que ele já está a querer descansar.
Joana moveu as antenas em sinal de acordo. Estava tão cansada que não teve vontade de dizer mais nada. Joaninha percebeu. Os pardais já dormiam, num novelinho só. O gafanhoto não se mexia, escondido por detrás de uma folha. Por todo o jardim se ouvia um silêncio acolhedor. As duas sossegaram também. E o dia terminou.

(continua)
J. M.

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