Hoje vamos brindar esta semana de janeiro de 2014 com mais um episódio do "Jardim do Lago, árvore n.º 5, 2.º ramo frente". A Joaninha tem andado muito curiosa em relação aos seus vizinhos...
Boa Leitura e Bom Ano de 2014!
Episódio 3
Quem passasse, naquele fim de tarde, no Jardim do
Lago nada encontraria de diferente dos outros dias, àquela hora: os cisnes
nadavam tranquilos, ouviam-se os alegres chilreios das avezinhas, já as flores
semicerravam as pétalas para as proteger do orvalho.
Só com uns binóculos de longo alcance e muita
perspicácia alguém veria um inseto minúsculo pousado no 2.º ramo frente da
árvore n.º 5.
Muito antes do pôr do sol, já Joaninha estava no
seu ramo, movimentando os olhinhos em todas as direções do jardim. Esperava a
sua amiga Joana. Os vizinhos do lado esquerdo e do lado direito ainda não
tinham chegado. Era cedo, ela é que tinha pressa.
Fixou o olhar num canteiro de florinhas brancas,
suspeitando que a amiga viria dali. Mas enganou-se. De repente, ouviu atrás de
si o bater de umas asinhas e virou-se.
– Olá, Joana!
– Olá, Joaninha! Cheguei. Foi fácil encontrar a tua
casa.
– Bem-vinda a este modesto lar, amiga. Chiu!...
Vamos ficar quietinhas debaixo desta folha. Aqui ao lado mora uma família de
passarinhos e desconfio que são insetívoros. Esconde-te, fala baixinho. Estão a
chegar.
– Grande chilreada!
– É sempre assim. Não sei que pássaros são...
– Não te preocupes, são pardais.
– E então?
– Os pardais são aves granívoras. Só comem
sementes, não apreciam insetos.
– Uf! Que alívio! As coisas que tu sabes, Joana.
– Aprendi com a vida. Tu ainda és muito nova...
Os passarinhos, pai, mãe e filhotes, olharam para o
lado frente do ramo, viram Joana e Joaninha e não esboçaram qualquer gesto de
ameaça. Enfunaram as peninhas, encostaram-se uns aos outros e, pouco a pouco,
foram calando os biquinhos.
De súbito, as duas amigas ouviram um ruído no ramo
do lado direito. Um gafanhoto desajeitado acabava de pousar e tentava acomodar
duas patas de serrilha debaixo das asas verdes.
– Olha, Joana, é o meu vizinho gafanhoto. Muito
esquisito, não achas?
– Não, é um gafanhoto como os outros.
– Mas eu acho-o estranho.
– Isso é preconceito, Joaninha.
– O que é isso?
– Preconceito é a ideia que fazemos de alguém sem o
conhecermos, apenas pela sua aparência ou por aquilo que ouvimos dizer dele.
– E isso é mau? Não será apenas uma maneira de nos
protegermos de desconhecidos?
– Às vezes é. Mas não devemos exagerar. Há pouco
desconfiavas dos pardais. Agora do gafanhoto. Já vimos que ele não é perigoso,
não nos faz mal nenhum, nem olha para cá. É simplesmente diferente de nós, não
tem que ser igual.
– Tens razão. Não temos motivos para desconfiar ou
fazer maus juízos de alguém só porque não é igual a nós.
– A variedade de seres é imensa.Encontrarás mais
facilmente diferentes de ti do que iguais. Só tens que aceitar as diferenças e
respeitá-las.
– Achas que podemos ser amigas do gafanhoto?
– Porque não? A amizade não acontece só entre seres
semelhantes, pode aproximar seres diferentes.
– Amanhã vamos tentar conversar com ele. Hoje não,
já é tarde. Parece-me que ele já está a querer descansar.
Joana moveu as antenas em sinal de acordo. Estava
tão cansada que não teve vontade de dizer mais nada. Joaninha percebeu. Os
pardais já dormiam, num novelinho só. O gafanhoto não se mexia, escondido por
detrás de uma folha. Por todo o jardim se ouvia um silêncio acolhedor. As duas
sossegaram também. E o dia terminou.
(continua)
J. M.
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